O ano de 2018 registrou o menor número de mortes no trânsito urbano de Blumenau desde 2000. Nos 12 meses do ano passado, a cidade teve 21 vítimas fatais em acidentes registrados nas ruas do município – não considerando as rodovias, que são de responsabilidade estadual ou federal. Em 2017, a cidade havia perdido 25 vidas em acidentes. A marca repete o que já havia ocorrido em 2016, quando o total de óbitos também foi de 21, o menor da série histórica dos últimos 19 anos feita pelo Seterb.
Segundo o diretor de Trânsito de Blumenau, Jailson Rogério Cândido, o resultado é fruto principalmente da fiscalização. Neste ano o município deve implantar um plano de segurança viária que envolve controladores de velocidade e de avanço de sinal, mas, até 2018, as principais formas de fiscalização foram o polêmico radar móvel e as blitze, que nos últimos meses têm sido feitas próximo a bares e casas noturnas.
– A gente sabe que é difícil alcançar o objetivo porque somente a fiscalização não basta. Existe uma coisa importante chamada comportamento. Mas precisamos de fiscalização e também de educação, que a escola pública de trânsito e autoescolas fazem, além de pilares como o do suporte à vida – opina Cândido.
O diretor também explica que o fato de muitos corredores de serviço como as ruas General Osório, Humberto de Campos e República Argentina estarem em obras em 2018 pode ter relação com uma menor velocidade e, consequentemente, menos acidentes graves.
– Essas vias, quando liberadas com várias pistas, precisarão ter suporte eletrônico para garantir a segurança. A preocupação é justamente essa. Vamos ter que intensificar esses pontos, acompanhar esse índice de velocidade – afirma o diretor de Trânsito do município.
A Rua Amazonas, no bairro Garcia, havia sido o ponto mais crítico de 2017. Foram cinco óbitos ao longo daquele ano. Três deles envolveram motociclistas. A morte do vendedor de picolé Wilson Seiler, o Mirelo, atropelado na altura do número 1.600, foi uma das mais emblemáticas. Em 2018, no entanto, a via não registrou nenhuma vítima. O diretor de Trânsito explica que nesse caso análises mostraram que a via não tinha situações de risco que justificavam a quantidade de acidentes do ano anterior:
– Ali não houve intervenções. É uma via que não tem situação irregular por falta de sinalização, não há buracos, está devidamente sinalizada. Pela análise que fizemos, os acidentes naquele ponto foram provocados pelo condutor ou pedestre que por ali transitava.
A Rua Bahia também teve avanços. Ela havia registrado duas mortes em 2017 e em 2018 não teve nenhum registro. As ruas Itajaí e 2 de Setembro foram onde mais houve acidentes com morte em 2018, com dois casos cada. Os outros 19 óbitos ocorreram cada um em ruas diferentes. Para o diretor de Trânsito de Blumenau, as blitze justificam esse fenômeno:
– Acabou o ponto de concentração. A maioria (dos acidentes) ocorre em períodos noturnos. Ou seja, com pista livre, sem circulação de demais veículos, o que leva a acreditar que teria duas motivações: excesso de velocidade ou embriaguez.
As operações de rua são um dos pontos que devem ser atacados em 2019. A guarda de trânsito deve atuar com blitze focadas em temas como cinto de segurança, equipamentos obrigatórios e transporte de cargas perigosas.
Menos mortes de motociclistas
A redução do número de motociclistas foi outro fato positivo em 2018. Foram oito óbitos, o menor índice desde 2000. Antes disso, os anos menos letais nas vias do município para quem anda de moto haviam sido 2004 e 2016, com nove mortes.
Embora o número tenha diminuído, o diretor de Trânsito explica que muitos motociclistas, em especial entregadores de lanches e refeições, ainda abusam da velocidade ou da imprudência. O tema é uma das prioridades do órgão, que tenta o apoio das empresas para buscar uma conduta de mais segurança dos funcionários que trabalham com motos.
Por fim, os números de 2018 mostram ainda que pela segunda vez desde 2000 o ano não teve nenhuma morte de ciclista. Isso só havia acontecido em 2008. Nos dois anos anteriores, Blumenau havia registrado quatro mortes de pessoas de bicicleta.
O lado negativo é que as mortes de pedestres atropelados aumentaram. Passaram de dois em 2017 para três casos em 2018. Cândido argumenta que o fato de a cidade ter mais pessoas usando a bicicleta como lazer do que de deslocamento para o trabalho, além de grupos de ciclistas, ajuda a explicar a situação.
Em sete das 21 mortes de 2018 o condutor fez o teste para medir o teor alcoólico. Em apenas dois deles foi constatado algum grau de consumo de álcool.
Grupo técnico debate casos do trânsito da cidade
O policial militar rodoviário e especialista em Segurança no Trânsito, Emerson Andrade, avalia que o cenário de diminuição de mortes no trânsito da área urbana é resultado de uma peculiaridade de Blumenau. Isso porque o município conta com um grupo de gestão integrada e uma Câmara Técnica de Trânsito e Mobilidade. Essas estruturas, que segundo o especialista não existem em outros municípios, reúnem mais de 40 entidades do governo e da sociedade. Eles discutem e acompanham de perto os acidentes, as causas e definem ações do poder público que podem ajudar a reduzir o número de colisões e de mortes.
Isso ajudou Blumenau a reduzir o número de mortes de 61 em 2010 para 21 em 2016, número que se repetiu em 2018. Essa diminuição, que em percentuais é de 65%, já fica acima do que a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu para a chamada Década de Ação pela Segurança no Trânsito, que busca reduzir em 50% o número de vítimas fatais em acidentes entre 2011 e 2020.
– Atribuo esse número, que deveria ser menor ainda, à manutenção desse trabalho maciço dos órgãos governamentais municipais, estaduais e federais. Esse conjunto de experiências converge para a redução desses números. A gente consegue trazer as demandas das rodovias, sobre comportamento dos motoristas, discutimos sobre cada acidente. Isso, concomitante com as ações de fiscalização, que têm papel fundamental. A fiscalização ostensiva causa uma redução de velocidade e, naturalmente, quando ocorre acidente, os impactos são menos desastrosos – aponta Andrade.
Apesar da redução nas mortes na área urbana, nas rodovias a situação é diferente. A BR-470, no trecho do Vale do Itajaí, entre Navegantes e Pouso Redondo, teve 102 mortes no ano passado, 38% a mais do que os 74 casos em 2017. Somente no trecho de Blumenau foram nove casos – no ano anterior, a cidade teve cinco mortes.
Andrade explica que na rodovia a menor frequência de fiscalização e a redução de efetivo fazem as estatísticas de morte serem maiores.
– Além disso, pela característica da rodovia, a velocidade é maior, mesmo congestionada. As pessoas se arriscam, acham que vai dar tempo. Isso as faz serem mais perigosas – compara.
Dados sobre as mortes
* Sexta-feira e sábado lideram mortes por dias da semana - mais da metade das mortes do ano passado no perímetro urbano, 12 do total de 21, ocorreram em acidentes registrados nas sextas-feiras e sábados. Os outros acidentes se distribuem entre os demais dias da semana, todos com dois registros – exceto quarta-feira, em que houve apenas uma morte.
* Abril, junho e setembro tiveram mais mortes - quando analisados pelos meses de ocorrência, três lideram as estatísticas. Abril, junho e setembro foram os meses mais letais, com quatro acidentes fatais cada. Maio e julho foram os únicos dois meses que não tiveram colisões fatais nas ruas de Blumenau.
* Maioria homens e com idade mais elevada - das 21 vítimas fatais do trânsito urbano de Blumenau em 2018, 17 eram homens e quatro mulheres. A maior parte das mortes envolveu pessoas com mais de 51 anos (oito). O segundo grupo etário com mais óbitos registrados foi de 19 a 30 anos, com sete ocorrências.
Fonte: https://www.nsctotal.com.br/noticias/blumenau-registra-queda-no-numero-de-mortes-em-acidentes-nas-ruas-da-cidade